
Armas de gel têm sido cada vez mais utilizadas no Brasil, o que tem causado alarme nos âmbitos de segurança e saúde (Foto: Redes sociais/Reprodução)
As armas de balas de gel, populares entre crianças e
adolescentes no Brasil, têm se tornado motivo de preocupação crescente.
Apontadas como inofensivas por muitos, elas estão, na verdade, associadas a ferimentos
graves, especialmente nos olhos. Em apenas quatro dias, a Fundação Altino
Ventura (FAV) no Recife atendeu 17 casos de traumas oculares causados
por disparos desse tipo de equipamento.
O Caso de Kauê: Um Alerta à Sociedade
Um desses casos foi o do pequeno Kauê Antony da Silva, de 9
anos, atingido no olho direito enquanto brincava com amigos. Levado às pressas
para cirurgia, Kauê enfrenta agora uma recuperação que envolve medicação e
acompanhamento semanal.
Segundo Rafael Gomes, tio do garoto e influenciador digital,
a família não permitirá mais que crianças utilizem armas de gel:
“É muito perigoso. Chegaram muitos casos até a gente que
podem lesionar gravemente. Não podemos deixar isso continuar.”
Os impactos desses dispositivos, feitos de polímeros
superabsorventes, são severos. Eles podem causar lesões permanentes,
como aumento do risco de catarata e até perda irreversível da visão,
conforme alertam especialistas.
Ferimentos Oculares e Possíveis Complicações
Camila Moraes, oftalmologista da FAV, explicou que as
principais queixas incluem:
- Sangramento
ocular
- Inflamação
conjuntival
- Uveíte,
inflamação do tecido vascular interno do olho, que pode gerar sequelas
visuais permanentes.
Além disso, traumas mais graves podem levar a descolamento
de retina semanas após o impacto, com risco de cegueira irreversível. A
médica alerta que crianças, sem perceber a gravidade, podem não relatar o
problema aos pais.
Regulamentação e Lacunas na Legislação
Apesar dos riscos, as armas de gel não são tratadas como armas
de fogo ou simulacros pela legislação brasileira, sendo amplamente
comercializadas como brinquedos. O Inmetro, entretanto, classifica-as
como réplicas de armas, comparáveis a equipamentos de paintball e
airsoft, que requerem fiscalização rigorosa e identificação com ponta laranja,
algo frequentemente ignorado no caso das armas de gel.
Embora o porte em si não seja considerado crime, o uso
indevido pode gerar implicações legais:
- Em
caso de lesão corporal, os pais podem ser responsabilizados
judicialmente, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
- Em
casos de omissão, os responsáveis podem ser penalizados se a criança se
machucar.
Ameaças à Segurança Pública
Além dos ferimentos, o uso indevido das armas de gel está
associado a riscos para a segurança pública. Relatos incluem:
- "Batalhas"
organizadas, onde jovens duelam em espaços públicos, gerando desordem.
- Uso
de armas de gel para simular pistolas em assaltos.
Casos já foram registrados em comunidades do Rio de Janeiro,
levantando preocupações sobre possíveis crimes e desordens semelhantes em
outras regiões do país.
O Papel dos Pais e da Sociedade
Especialistas enfatizam a importância da supervisão parental
e da orientação sobre os perigos dessas "brincadeiras". Giovani
Santoro, especialista em segurança, alerta:
“Os pais precisam saber o que seus filhos estão fazendo
diariamente e orientá-los sobre essas condutas inadequadas que podem levar à
apreensão e medidas restritivas de liberdade.”
Conclusão: Repensando a Popularidade das Armas de Gel
O aumento de ferimentos e as implicações legais e sociais
das armas de gel exigem uma reflexão coletiva sobre seu uso e comercialização.
A ausência de regulamentação clara, aliada ao desconhecimento dos riscos,
coloca crianças, adolescentes e até terceiros em situações vulneráveis.
Promover uma discussão pública sobre o tema, aliada a uma
fiscalização mais rigorosa, pode ser o primeiro passo para evitar tragédias
maiores e garantir a segurança das futuras gerações.