
Parte do episódio foi gravada e compartilhada no perfil da personal trainer (Foto: Redes sociais/Reprodução)
A rede de academias Selfit anunciou nesta terça-feira
(27) o encerramento do contrato de um casal de clientes envolvido em um caso
de preconceito e constrangimento contra a personal trainer Kely Moraes,
em uma das unidades localizadas no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul do
Recife.
O episódio, que ocorreu no dia anterior (26), ganhou
repercussão nas redes sociais após a profissional denunciar publicamente
que foi impedida de usar o banheiro feminino por um homem e uma mulher,
que alegaram, de forma preconceituosa, que “aquele não era o seu lugar”, em uma
clara tentativa de associá-la a uma mulher trans.
“Proporcionar um ambiente seguro e respeitoso”, afirma a
Selfit
Por meio de nota oficial publicada em seus perfis nas redes
sociais, a Selfit afirmou que “repudia qualquer ato de preconceito ou
violência” e reforçou que sua missão é garantir um ambiente seguro,
acolhedor e respeitoso para todos os frequentadores.
A empresa destacou ainda que, ao tomar conhecimento do
ocorrido, a equipe local agiu imediatamente para conter os ânimos e
garantir a segurança da vítima, orientando as partes a procurarem as autoridades
competentes.
Confira o comunicado da Selfit na íntegra:
“A Selfit lamenta profundamente o episódio ocorrido na
unidade Boa Viagem II, ontem, dia 26, e reitera que repudia qualquer ato de
preconceito ou violência.
A missão da Selfit Academias é proporcionar um ambiente
seguro, acolhedor e respeitoso para todas as pessoas que frequentam nossas
unidades. Assim que a situação foi identificada, a equipe local agiu para
conter os ânimos e garantir a segurança da vítima. As partes foram orientadas a
formalizar o ocorrido às autoridades competentes e, desde então, a Selfit está
à disposição para colaborar com as investigações.
A rede de academia afirma ainda que tomou todas as medidas
cabíveis, acolhendo e apoiando a vítima e encerrando os contratos dos
clientes causadores, conforme os princípios e valores da empresa”.
Entenda o caso: “Eu só queria ir no banheiro”, desabafa a
vítima
De acordo com os relatos de Kely Moraes, o caso teve
início quando ela foi abordada pelo casal logo após usar o banheiro feminino.
Em um vídeo postado em seu Instagram, Kely registrou o momento em que o homem a
tenta direcionar para outro banheiro, deixando claro que a impedia de
usar o espaço destinado às mulheres.
“Ainda sem acreditar que existem pessoas assim. Fui
vítima de preconceito. Eu só queria ir no banheiro. Só isso”, desabafou
Kely nas redes sociais.
A personal relatou que a mulher envolvida no caso chegou a
afirmar diretamente:
“Você não pode entrar naquele banheiro. Ali não é o seu
lugar. Ali é banheiro para mulher”.
Kely completou:
“Aí eu entendi o peso da situação. Eu já tinha ido ao
banheiro e estava descendo a escada. Ela passou por mim, parou e disse aquilo.
Subi novamente para perguntar por quê, e ela confirmou que não era meu lugar.
Me senti envergonhada, não por ser comparada com uma trans, o que para mim é um
elogio. As trans são lindas, cada uma com sua história e sua guerra.”
Boletim de ocorrência foi registrado
Diante do constrangimento, Kely afirmou ter registrado um
boletim de ocorrência e declarou que irá processar os responsáveis.
Entretanto, ela também destacou os danos psicológicos causados pela
situação.
“Fiz minha parte, B.O., vou processar. Mas e os danos
psicológicos? O constrangimento? Eu estou envergonhada. Foi humilhante”,
afirmou.
Polícia Civil investiga o caso
Em nota oficial divulgada também nesta terça (27), a Polícia
Civil de Pernambuco informou que o caso foi registrado como constrangimento
ilegal, vias de fato e ameaças.
A corporação instaurou um inquérito policial e
declarou que as diligências foram iniciadas imediatamente, com o
objetivo de apurar completamente os fatos ocorridos na unidade da Selfit em Boa
Viagem.
Repercussão nas redes: solidariedade e indignação
O caso repercutiu rapidamente nas redes sociais, gerando uma
onda de apoio à personal trainer e diversas manifestações de repúdio ao
comportamento do casal. Internautas, influenciadores e até outros
profissionais de educação física demonstraram solidariedade, cobrando
medidas firmes da academia e das autoridades.
Um passo necessário, mas insuficiente
A decisão da Selfit de encerrar o vínculo com os clientes
envolvidos foi amplamente elogiada por usuários, que apontaram o gesto como
fundamental para combater atitudes preconceituosas dentro dos espaços
coletivos. No entanto, muitos destacam que ainda há um longo caminho
para garantir que todas as pessoas se sintam seguras e respeitadas,
especialmente mulheres trans e pessoas com identidades de gênero não
normativas.