
Transporte por moto via aplicativo vai ser pauta do MPPE sobre possível regulamentação (Foto: Luiz Carlos Murauskas/Folhapress/Arquivo)
O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) abriu um procedimento
preparatório para investigar possíveis irregularidades relacionadas ao crescimento
desordenado do transporte por moto via aplicativo no Recife e em outras
cidades do estado. A intenção é compreender o impacto dessa modalidade na
mobilidade urbana e discutir medidas de regulamentação do serviço.
Segundo o promotor de Justiça Leonardo Caribé, o
avanço acelerado desse tipo de transporte pode estar diretamente relacionado à evasão
de passageiros do transporte público e ao aumento de acidentes
envolvendo motocicletas, que têm apresentado índices alarmantes nos últimos
anos.
“Monitoramos a queda de usuários no transporte coletivo e
observamos um aumento no número de sinistros com motocicletas. Isso levantou o
alerta”, afirmou Caribé, em entrevista à Folha de Pernambuco.
Regulamentação ainda é incerta, mas necessária, diz MPPE
De acordo com o MPPE, ainda não há uma definição exata sobre
como funcionaria a regulamentação, já que cada município poderá adotar seus
próprios critérios. No entanto, diretrizes gerais estão sendo elaboradas e
deverão focar especialmente na segurança dos usuários e dos condutores.
Uma audiência pública está sendo articulada para o mês de
abril, com participação de órgãos como:
- Detran-PE
- CTTU
(Autarquia de Trânsito do Recife)
- Semobi
- Grande
Recife Consórcio de Transportes
- Prefeituras
da Região Metropolitana
- Representantes
da categoria
O MPPE também articula diálogo com o Ministério Público
do Trabalho (MPT) para que a regulamentação considere aspectos laborais e
de segurança no trânsito.
Sistema de transporte público em colapso e dados
preocupantes sobre sinistros
O debate ganha força especialmente diante do cenário
crítico do transporte público. Segundo o Grande Recife Consórcio de
Transporte, menos de 16% da frota de ônibus conta com ar-condicionado.
No caso do metrô, são frequentes as paralisações por falhas
estruturais, agravando a precariedade do sistema e incentivando o uso de
alternativas, como motos por aplicativo.
Já no campo da segurança viária, os dados chamam atenção. De
acordo com o Relatório Preliminar de Segurança Viária da CTTU, divulgado
no fim de 2023, 48% das mortes no trânsito no Recife foram de
motociclistas. Das 144 mortes registradas, 68 envolveram motos.
Apesar de não existir uma relação direta entre transporte
por aplicativo e esses acidentes, o número crescente de motocicletas nas ruas —
muitas delas vinculadas a aplicativos — impulsiona o debate.
Falta de dados específicos dificulta associação direta
com aplicativos
O MPPE solicitou informações ao SAMU Recife e à Secretaria
Executiva de Vigilância em Saúde (SEVS) sobre os tipos de acidentes com
motocicletas entre 2023 e 2024. No entanto, os órgãos informaram que não há
especificações sobre a utilização de aplicativos nas ocorrências
registradas.
Mesmo com os dados limitados, o MPPE acredita que é possível
propor medidas preventivas com base no cenário atual.
Categoria de motociclistas por aplicativo se divide, mas
sindicato defende regulamentação
Apesar de haver resistência de parte da categoria,
entidades representativas já se posicionam a favor de uma regulamentação.
Segundo Rodrigo Lopes, presidente do Sindicato dos
Trabalhadores Entregadores, Empregados e Autônomos de Moto e Bicicleta por
Aplicativos de Pernambuco (Seambape), uma regulamentação pode trazer segurança,
capacitação e remuneração justa para os trabalhadores.
“A resistência acontece por falta de informação. Muitos não
sabem que uma regulamentação pode significar capacitação, direitos e proteção
no trânsito”, explicou.
Levantamento feito pelo IBGE e Unicamp em 2022
revelou que 1,5 milhão de brasileiros trabalham com aplicativos, sendo 778
mil como motoristas e 589 mil como entregadores. Em média, os trabalhadores
do setor atuam 47,9 horas semanais e recebem cerca de R$ 2.454 por
mês, valor que tende a se equiparar entre motoristas e motociclistas —
apesar do maior risco enfrentado pelos que pilotam motos.
Próximos passos e expectativa da sociedade
O MPPE afirmou que a primeira audiência deve acontecer em
breve e terá como objetivo “construir soluções em conjunto com os poderes
públicos, usuários e trabalhadores”. A expectativa é que, a partir da
escuta dos envolvidos, seja possível formular propostas realistas e eficazes.
“Queremos fomentar esse debate com responsabilidade. O
transporte por aplicativo é uma realidade e precisamos encontrar formas de
torná-lo seguro, justo e regulado”, concluiu o promotor Leonardo Caribé.