
(Foto: Divulgação/PCPE)
A Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) deflagrou, na
última terça-feira (15), a Operação Malta, voltada à desarticulação
de um esquema de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro no Polo Gesseiro
do Araripe, uma das maiores regiões produtoras de gesso do país, localizada
no Sertão pernambucano. A ação resultou na prisão de sete pessoas e no cumprimento
de 22 mandados judiciais contra outros investigados, suspeitos de
integrarem uma organização criminosa com atuação em Pernambuco e no
Piauí.
Segundo a polícia, o grupo criminoso movimentou cerca de
R$ 140 milhões nos últimos dois anos, utilizando-se de empresas
fantasmas, falsidade ideológica e documentos falsos para fraudar a
fiscalização e evadir impostos.
Fraude em larga escala com epicentro no Polo Gesseiro
As investigações, iniciadas em fevereiro de 2023,
revelaram que os criminosos atuavam por meio de empresas do setor gesseiro
localizadas nos municípios de Trindade e Araripina, em Pernambuco, e Marcolândia,
no Piauí. A região é responsável por mais de 90% da produção de gesso no
Brasil, o que torna a fraude ainda mais impactante para a arrecadação
fiscal do estado e do país.
O esquema consistia na emissão fraudulenta de notas
fiscais, muitas vezes feitas no meio do trajeto das cargas, com o
intuito de acobertar a origem do produto transportado e dissimular a
operação comercial real.
“As notas fiscais não eram emitidas na saída das cargas. Os
caminhões saíam com o produto e, em pontos específicos do caminho, paravam para
adquirir notas falsas em escritórios ou empresas fantasmas”, explicou Antônio
Emery, diretor de operações da Secretaria da Fazenda de Pernambuco
(Sefaz-PE).
Empresas de fachada e pessoas vulneráveis no centro do
golpe
A polícia identificou pelo menos 42 empresas laranjas
utilizadas pelo grupo para facilitar o esquema. Segundo os investigadores,
essas empresas serviam para "alimentar" quatro empresas principais,
que foram as maiores beneficiadas com a sonegação, acumulando sozinhas uma
dívida estimada em R$ 18 milhões.
Para criar essas empresas fantasmas, o grupo recrutava pessoas
em situação de vulnerabilidade socioeconômica, que vendiam seus dados
pessoais, como o CPF, em troca de pequenas quantias de dinheiro.
“Eles buscavam indivíduos sem renda, que se dispunham a
vender seus documentos. Com isso, os criminosos abriam empresas fraudulentas em
nome dessas pessoas, mascarando a real operação”, detalhou o delegado Breno
Varejão, responsável pelas investigações.
Falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e organização
criminosa
Além da sonegação fiscal, os envolvidos poderão
responder pelos crimes de lavagem de dinheiro, falsidade ideológica,
falsidade documental e organização criminosa. A operação, que
contou com o apoio da Secretaria da Fazenda de Pernambuco, foi
apresentada oficialmente em coletiva de imprensa na sede da Polícia Civil, no
centro do Recife.
“Essa prática é antiga no setor gesseiro, infelizmente. Com
a obrigatoriedade de notas fiscais eletrônicas e manifestos de transporte, os
criminosos passaram a contornar as exigências criando uma rede de empresas de
fachada apenas para gerar documentos que ‘acobertassem’ os carregamentos”,
explicou o delegado Varejão.
Impacto fiscal e medidas de combate à fraude
A atuação da organização resultou em prejuízos
milionários aos cofres públicos, com um total estimado de R$ 140 milhões
em movimentações fraudulentas, conforme apontado por um levantamento
preliminar das autoridades.
As empresas identificadas pela Sefaz-PE já foram descredenciadas,
e a pasta segue com ações para recuperar os valores devidos e reforçar
a fiscalização no setor gesseiro.
A PCPE afirmou que novas fases da operação não estão
descartadas, e outras prisões podem ocorrer conforme o avanço das
investigações.