
(Foto: Acervo/IAHGB)
Com mais de 162 anos de história, o Instituto
Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP) é muito mais que
um espaço de memória: é um símbolo vivo da identidade de Pernambuco e um
dos mais respeitados centros culturais e científicos do Brasil. Fundado em 28
de janeiro de 1862, o Instituto se destaca como o mais antigo instituto
histórico regional do país, sendo um verdadeiro guardião de séculos de
história, cultura e pensamento intelectual.
Uma crítica imperial que mudou a história cultural do
Recife
A criação do IAHGP nasceu de um momento emblemático. Em 1859,
durante visita ao Recife, o imperador Dom Pedro II criticou duramente o
desinteresse dos intelectuais locais em relação à memória histórica da
província. A provocação do monarca despertou uma reação positiva: um grupo de professores
e estudantes da Faculdade de Direito do Recife decidiu fundar uma entidade
voltada à preservação do passado.
O resultado foi a criação do primeiro instituto histórico
estadual do Brasil, que mais tarde se consolidaria como referência
nacional e internacional em pesquisa histórica.
Um casarão tombado que guarda relíquias de valor
incalculável
A primeira sede do IAHGP funcionou no Convento do Carmo,
mas o Instituto passou por diversos endereços até se estabelecer, em 1920,
em um imponente casarão localizado na Rua do Hospício, nº 130, no centro
do Recife. O prédio, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan), foi doado pelo então governador Manoel Borba.
Em seu interior, o acervo impressiona: estão preservados
documentos e objetos de valor histórico incalculável, como a prensa e
o exemplar original do jornal "O Preciso", impresso durante a Revolução
Pernambucana de 1817, além de materiais ligados à fundação do Diario de
Pernambuco, um dos jornais mais antigos em circulação nas Américas.
A força de uma liderança ligada à história
À frente da instituição está o historiador George Cabral,
doutor pela Universidade de Salamanca e professor da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE). Sua relação com o Instituto é longa:
“Comecei a frequentar o Instituto em 2001 como pesquisador
de mestrado. Em 2008, tornei-me sócio efetivo e hoje estou na minha terceira
gestão como presidente”, destaca Cabral.
Para ele, o IAHGP é um centro fundamental de preservação
do patrimônio pernambucano, especialmente num tempo em que Pernambuco
não possuía sequer arquivo público ou museu histórico. “Muitos bens
culturais foram depositados aqui, e os conservamos com zelo, tornando-os
acessíveis à população”, afirma.
Acervo com 16 mil volumes, mapas raros e a mais antiga
revista acadêmica do país
O Instituto reúne cerca de 16 mil volumes em sua
biblioteca, além de mapas raros, bustos, pinturas e documentos
históricos que ajudam a contar a história do Brasil sob a perspectiva
regional. Entre os tesouros mais preciosos está a Revista do Instituto
Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, publicada desde 1863.
A revista é uma das mais antigas publicações acadêmicas do país e continua
sendo um veículo ativo de difusão do conhecimento histórico e científico.
O IAHGP além dos muros: história viva nas ruas do Recife
Nos últimos anos, o Instituto tem se esforçado para ampliar
seu alcance para fora de suas dependências físicas. Um dos projetos mais
significativos é a instalação de painéis de azulejo em bairros históricos
como Graças, Espinheiro, Boa Vista e Santo Antônio, contando a história da
origem dos nomes das ruas. A ação visa reaproximar os moradores de suas
próprias raízes culturais, reforçando a identidade local.
Planos para o futuro: digitalização e novo museu
Apesar de todos os desafios enfrentados por instituições
culturais no Brasil, o IAHGP tem planos ambiciosos. Entre as metas, está a digitalização
completa do acervo, garantindo a acessibilidade para pesquisadores de
todo o mundo, e a reabertura do museu com uma nova expografia, que
torne a visita ainda mais atrativa e educativa para o público.
“Nosso maior desejo é garantir a conservação e a
acessibilidade desses materiais para as próximas gerações”, conclui George
Cabral.
Mais do que um arquivo, o Instituto Arqueológico, Histórico
e Geográfico de Pernambuco é uma instituição pulsante, essencial para a
formação de pesquisadores, professores, estudantes e cidadãos conscientes da
importância do seu passado para a construção do futuro.